segunda-feira, 4 de abril de 2011

Filmes que eu amo, parte 1 - Uma Noite sobre a Terra

im Jarmusch é um dos caras mais talentosos do cinema independente americano. É pena que venha produzindo tão pouco nos últimos anos. Gosto demais de grande parte de seus filmes e Uma Noite sobre a Terra é um dos meus favoritos. Talvez por ser uma pequena obra prima, com um roteiro que consegue ser simples e genial, e seus personagens hilários e, ao mesmo tempo, dramáticos.

Em cinco cidades diferentes, pessoas pegam táxis no meio da madrugada. Em Los Angeles, uma jovem taxista leva uma agente de atores para o hotel. A empresária está a procura de uma nova face para um filme, e vê na menina uma estrela em potencial. Já em Nova York, um morador do Bronx quer voltar para casa, mas nenhum carro para na rua para levá-lo. Apenas um alemão, recém-chegado na cidade tem boa vontade para conduzi-lo. Na capital francesa, um africano traz dois diplomatas compatriotas de volta de uma festa, é vítima de suas chacotas e os abandona no meio da rua. Em seguida, pega uma jovem cega das mais perspicazes.



Enquanto isso, em Roma, um condutor falastrão transporta um padre do centro da cidade para sua casa, na periferia, e o deixa horrorizado com os relatos de suas aventuras sexuais. Num ponto mais frio da Europa, em Heikijavik, três amigos bebem o desgosto de um deles, que ficou desempregado, perdeu a esposa e tem uma filha adolescente grávida. Mal sabem os pobres diabos que a história do taxista é ainda mais triste que a dele.

Jarmusch também lança mão de atores que fariam parte de outros de seus filmes, como Roberto Benigni vivendo o lascivo italiano, e Isaac de Bankolé (de Limits of Control) como o taxista parisiense. Outras grandes aparições são Geena Rolands, a musa de John Cassavettes, na parte de Los Angeles, e o alemão Armim Muller-Stall (que fez Senhores do Crime , de David Cronemberg) como o ex-palhaço que vai ganhar a vida guiando pelas ruas da Big Apple.

Jarmusch traz pitadas da poesia dramática de Fellini e do humor picaresco do cinema italiano dos anos 70 ao seu estilo, que tem foco no equilíbrio entre os diálogos (excelentes) e os momentos de silêncio, tudo pontuado pela bela trilha de Tom Waitts, outra marca sua.

As cinco histórias retratam brilhantemente aquelas conversas tão corriqueiras, nem sempre cortezes, entre conduzidos e condutores. Mostra também a universalidade de certas situações. Gente que não dirige e está sempre atravessando a cidade de táxi, como eu, se identifica facilmente.