Minha primeira incursão pelo fantástico mundo de Michelangelo Antonioni foi há quase 17 anos, quando eu estava no primeiro ano da faculdade. Era uma tarde gelada e eu estava em casa sem ter o que fazer. Fui à locadora e dei de cara com The Passenger – que aqui no Brasil ganhou a infame alcunha de “Passageiro: Profissão Repórter”. Caloura de jornalismo, fiquei fascinada com as sequências no deserto e sonhava em ser uma espécie de Christiane Amampour, cobrindo conflitos no Oriente Médio. Devaneios mirins à parte, foi um dos mais inventivos e bonitos filmes que já vi na vida.
Um tempo depois vi Blow Up, que, novamente em terras brasilis, recebeu o complemento que se quer espertinho, “Depois daquele beijo”. Se existe uma peça cinematográfica que represente para mim a ideia de que aquilo que vemos pode ou não ser verdadeira é essa. A forma foi repetida inúmeras vezes, muitas vezes de jeitos diferentes, e se mantém atual, mais de 40 anos depois.
Antonioni é, antes de tudo, um esteta. Todos seus filmes primam por uma técnica em que se sobressaem os planos longos combinados a elementos de cena fantásticos. E sempre belas mulheres. Em Blow Up, além de Vanessa Redgrave, linda e charmosa como a misteriosa moça que comete o beijo do pseudo-título brasileiro, vê-se ainda uma jovem e peralta Jane Birkin, na fase pré-Gainsbourg.
Rever essa película, num dia de recolhimento e reflexões, me lembrou de tantas outras coisas que parecem algo, mas em seu andamento tornam-se outras. E daquelas que se tinha certeza de que eram reais, e ao final nada mais eram que ilusões idiotas. Um exercício mental bastante difícil, mas necessário.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Caótico Medem
Ela se chama Ana. Ele, Oto. Dois nomes palindrômicos, duas almas parecidas que se separam e se juntam várias vezes na vida. A linha geral do roteiro de Los Amantes del Círculo Polar pode parecer de uma pieguice sem fim à primeira vista, mas trata-se de uma película surpreendentemente bonita. A condução do roteiro e a direção de arte fazem dele um dos mais interessantes filmes sobre amores confusos de todos os tempos. Pena que Julio Medem, seu diretor, perdeu a mão totalmente nos últimos anos.
Apesar de frustrada com Caótica Ana, de 2007, chatíssima saga de uma jovem que vai para Madrid para se aprofundar na carreira de artista plástica e dá uma pirada (quer coisa mais clichê?), resolvi ver Habitación en Roma, de 2010, seu último trabalho. A espanhola Alba (Elena Anaya) e a russa Natasha (Natasha Yanorenko) se conhecem em um bar e acabam indo para o quarto de hotel de uma delas. Lá, durante as 12 horas que faltam para deixarem a cidade e voltarem para suas vidas reais, elas transam e falam de suas histórias e problemas reais e imaginários. Tudo recheado de planos feios, metáforas visuais equivocadas, trilha sonora cansativa e um desnecessário merchandising do Bing, o serviço de mapas da Microsoft.
Parece que Medem quis fazer uma mescla de Antes do Amanhecer (1998), de Richard Linklater, e do chileno En la cama, de Matias Bizé (que inclusive tem uma versão brasileira com dois ícones do canastrismo, Reynaldo Gianechini e Paloma de Oliveira). Por mais Medem seja dono de uma estética mais elaborada, que sua obra tenha uma marca autoral (suas personagens são sempre mulheres belas e perdidas) pouco se salva. Os diálogos são fracos, dando até vergonha em algumas cenas. Grande parte dos planos são cafonas, como nas cenas de sexo à la Canal Playboy, claramente feitas para agradar ao público masculino. Acho que se ele fizesse cenas mais descaradas, como em Lucía y el Sexo ou Caótica Ana, seria mais interessante e coerente com o resto do seu trabalho.
Pensando no panorama do cinema espanhol atual, dá para tirar desse filme uma reflexão sobre os rumos de tantos diretores. Talvez a crise econômica tenha tido um efeito maior que simplesmente afastar os investimentos. Poucos diretores vêm fazendo coisas bacanas, como Jaume Bagueró e Paco Plaza, do ótimo REC. Pode ser que o desânimo tenha abatido a criatividade ibérica. Espero que isso logo mude e que voltemos a nos entusiasmar com novos realizadores de lá.
Apesar de frustrada com Caótica Ana, de 2007, chatíssima saga de uma jovem que vai para Madrid para se aprofundar na carreira de artista plástica e dá uma pirada (quer coisa mais clichê?), resolvi ver Habitación en Roma, de 2010, seu último trabalho. A espanhola Alba (Elena Anaya) e a russa Natasha (Natasha Yanorenko) se conhecem em um bar e acabam indo para o quarto de hotel de uma delas. Lá, durante as 12 horas que faltam para deixarem a cidade e voltarem para suas vidas reais, elas transam e falam de suas histórias e problemas reais e imaginários. Tudo recheado de planos feios, metáforas visuais equivocadas, trilha sonora cansativa e um desnecessário merchandising do Bing, o serviço de mapas da Microsoft.
Parece que Medem quis fazer uma mescla de Antes do Amanhecer (1998), de Richard Linklater, e do chileno En la cama, de Matias Bizé (que inclusive tem uma versão brasileira com dois ícones do canastrismo, Reynaldo Gianechini e Paloma de Oliveira). Por mais Medem seja dono de uma estética mais elaborada, que sua obra tenha uma marca autoral (suas personagens são sempre mulheres belas e perdidas) pouco se salva. Os diálogos são fracos, dando até vergonha em algumas cenas. Grande parte dos planos são cafonas, como nas cenas de sexo à la Canal Playboy, claramente feitas para agradar ao público masculino. Acho que se ele fizesse cenas mais descaradas, como em Lucía y el Sexo ou Caótica Ana, seria mais interessante e coerente com o resto do seu trabalho.
Pensando no panorama do cinema espanhol atual, dá para tirar desse filme uma reflexão sobre os rumos de tantos diretores. Talvez a crise econômica tenha tido um efeito maior que simplesmente afastar os investimentos. Poucos diretores vêm fazendo coisas bacanas, como Jaume Bagueró e Paco Plaza, do ótimo REC. Pode ser que o desânimo tenha abatido a criatividade ibérica. Espero que isso logo mude e que voltemos a nos entusiasmar com novos realizadores de lá.
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