quinta-feira, 26 de maio de 2011

Filmes que eu amo - Parte 2 - Blow Up

Minha primeira incursão pelo fantástico mundo de Michelangelo Antonioni foi há quase 17 anos, quando eu estava no primeiro ano da faculdade. Era uma tarde gelada e eu estava em casa sem ter o que fazer. Fui à locadora e dei de cara com The Passenger – que aqui no Brasil ganhou a infame alcunha de “Passageiro: Profissão Repórter”. Caloura de jornalismo, fiquei fascinada com as sequências no deserto e sonhava em ser uma espécie de Christiane Amampour, cobrindo conflitos no Oriente Médio. Devaneios mirins à parte, foi um dos mais inventivos e bonitos filmes que já vi na vida.

Um tempo depois vi Blow Up, que, novamente em terras brasilis, recebeu o complemento que se quer espertinho, “Depois daquele beijo”. Se existe uma peça cinematográfica que represente para mim a ideia de que aquilo que vemos pode ou não ser verdadeira é essa. A forma foi repetida inúmeras vezes, muitas vezes de jeitos diferentes, e se mantém atual, mais de 40 anos depois.



Antonioni é, antes de tudo, um esteta. Todos seus filmes primam por uma técnica em que se sobressaem os planos longos combinados a elementos de cena fantásticos. E sempre belas mulheres. Em Blow Up, além de Vanessa Redgrave, linda e charmosa como a misteriosa moça que comete o beijo do pseudo-título brasileiro, vê-se ainda uma jovem e peralta Jane Birkin, na fase pré-Gainsbourg.

Rever essa película, num dia de recolhimento e reflexões, me lembrou de tantas outras coisas que parecem algo, mas em seu andamento tornam-se outras. E daquelas que se tinha certeza de que eram reais, e ao final nada mais eram que ilusões idiotas. Um exercício mental bastante difícil, mas necessário.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Caótico Medem

Ela se chama Ana. Ele, Oto. Dois nomes palindrômicos, duas almas parecidas que se separam e se juntam várias vezes na vida. A linha geral do roteiro de Los Amantes del Círculo Polar pode parecer de uma pieguice sem fim à primeira vista, mas trata-se de uma película surpreendentemente bonita. A condução do roteiro e a direção de arte fazem dele um dos mais interessantes filmes sobre amores confusos de todos os tempos. Pena que Julio Medem, seu diretor, perdeu a mão totalmente nos últimos anos.

Apesar de frustrada com Caótica Ana, de 2007, chatíssima saga de uma jovem que vai para Madrid para se aprofundar na carreira de artista plástica e dá uma pirada (quer coisa mais clichê?), resolvi ver Habitación en Roma, de 2010, seu último trabalho. A espanhola Alba (Elena Anaya) e a russa Natasha (Natasha Yanorenko) se conhecem em um bar e acabam indo para o quarto de hotel de uma delas. Lá, durante as 12 horas que faltam para deixarem a cidade e voltarem para suas vidas reais, elas transam e falam de suas histórias e problemas reais e imaginários. Tudo recheado de planos feios, metáforas visuais equivocadas, trilha sonora cansativa e um desnecessário merchandising do Bing, o serviço de mapas da Microsoft.





Parece que Medem quis fazer uma mescla de Antes do Amanhecer (1998), de Richard Linklater, e do chileno En la cama, de Matias Bizé (que inclusive tem uma versão brasileira com dois ícones do canastrismo, Reynaldo Gianechini e Paloma de Oliveira). Por mais Medem seja dono de uma estética mais elaborada, que sua obra tenha uma marca autoral (suas personagens são sempre mulheres belas e perdidas) pouco se salva. Os diálogos são fracos, dando até vergonha em algumas cenas. Grande parte dos planos são cafonas, como nas cenas de sexo à la Canal Playboy, claramente feitas para agradar ao público masculino. Acho que se ele fizesse cenas mais descaradas, como em Lucía y el Sexo ou Caótica Ana, seria mais interessante e coerente com o resto do seu trabalho.

Pensando no panorama do cinema espanhol atual, dá para tirar desse filme uma reflexão sobre os rumos de tantos diretores. Talvez a crise econômica tenha tido um efeito maior que simplesmente afastar os investimentos. Poucos diretores vêm fazendo coisas bacanas, como Jaume Bagueró e Paco Plaza, do ótimo REC. Pode ser que o desânimo tenha abatido a criatividade ibérica. Espero que isso logo mude e que voltemos a nos entusiasmar com novos realizadores de lá.