quinta-feira, 5 de maio de 2011

Caótico Medem

Ela se chama Ana. Ele, Oto. Dois nomes palindrômicos, duas almas parecidas que se separam e se juntam várias vezes na vida. A linha geral do roteiro de Los Amantes del Círculo Polar pode parecer de uma pieguice sem fim à primeira vista, mas trata-se de uma película surpreendentemente bonita. A condução do roteiro e a direção de arte fazem dele um dos mais interessantes filmes sobre amores confusos de todos os tempos. Pena que Julio Medem, seu diretor, perdeu a mão totalmente nos últimos anos.

Apesar de frustrada com Caótica Ana, de 2007, chatíssima saga de uma jovem que vai para Madrid para se aprofundar na carreira de artista plástica e dá uma pirada (quer coisa mais clichê?), resolvi ver Habitación en Roma, de 2010, seu último trabalho. A espanhola Alba (Elena Anaya) e a russa Natasha (Natasha Yanorenko) se conhecem em um bar e acabam indo para o quarto de hotel de uma delas. Lá, durante as 12 horas que faltam para deixarem a cidade e voltarem para suas vidas reais, elas transam e falam de suas histórias e problemas reais e imaginários. Tudo recheado de planos feios, metáforas visuais equivocadas, trilha sonora cansativa e um desnecessário merchandising do Bing, o serviço de mapas da Microsoft.





Parece que Medem quis fazer uma mescla de Antes do Amanhecer (1998), de Richard Linklater, e do chileno En la cama, de Matias Bizé (que inclusive tem uma versão brasileira com dois ícones do canastrismo, Reynaldo Gianechini e Paloma de Oliveira). Por mais Medem seja dono de uma estética mais elaborada, que sua obra tenha uma marca autoral (suas personagens são sempre mulheres belas e perdidas) pouco se salva. Os diálogos são fracos, dando até vergonha em algumas cenas. Grande parte dos planos são cafonas, como nas cenas de sexo à la Canal Playboy, claramente feitas para agradar ao público masculino. Acho que se ele fizesse cenas mais descaradas, como em Lucía y el Sexo ou Caótica Ana, seria mais interessante e coerente com o resto do seu trabalho.

Pensando no panorama do cinema espanhol atual, dá para tirar desse filme uma reflexão sobre os rumos de tantos diretores. Talvez a crise econômica tenha tido um efeito maior que simplesmente afastar os investimentos. Poucos diretores vêm fazendo coisas bacanas, como Jaume Bagueró e Paco Plaza, do ótimo REC. Pode ser que o desânimo tenha abatido a criatividade ibérica. Espero que isso logo mude e que voltemos a nos entusiasmar com novos realizadores de lá.

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