quarta-feira, 27 de julho de 2011

Gainsbourg, vida louca

Quando se pensa em Serge Gainsboug muita gente lembra de seu talento e sua audácia como compositor e cantor, influenciado por nomes lendários como Jacques Brel e Charles Aznavour. Mas para a maior parte do mundo, o que o mitificou foi a fama de conquistador serial de lindas mulheres, como Brigitte Bardot, Juliette Grècco e Jane Birkin. Com muita poesia e belas metáforas, o diretor Joann Sfar conseguiu unir essas duas pontas e ainda mostrar outros aspectos da vida dele em Gainsbourg, vie héroïque, que aqui virou Gainsbourg, o Homem que amava as Mulheres, título que serve, justamente, para chamar a atenção de quem conhece apenas esse lado.

Generalização à parte, Sfar usa da fantasia, mola-mestra de sua atividade principal como cartunista, para aproximar o protagonista da audiência. Na infância, o pequeno Lucien (ele se tornaria Serge bem mais tarde, por sugestão do músico Boris Vian) aparece acompanhado por um boneco grande, redondo, dotado de dois pares de braços e pernas, mas com as suas feições. Já na juventude, o ser roliço – sua consciência? – torna-se uma criatura magra, alta, de nariz e orelhas grandes. Ele é interpretado por Doug Jones, ator especializado em dar vida a seres fantásticos como o fauno do já clássico filme de Guillhermo del Toro e Abrahan Sapian, o homem-peixe da franquia Hellboy.



Mesmo sendo muito parecido, Eric Elmosnino não emula totalmente o charme do "feio-bonito-interessante-barraqueiro" do original. O mesmo pode-se dizer de Laetitia Casta, sem dúvida uma das mulheres mais lindas do mundo, mas cuja Brigitte Bardot nada mais faz que irritar o público (os homens creio que não), durante os poucos minutos em que aparece na tela. Outras atrizes em cena são Anna Mouglalis – que antes de Greccò já havia sido Coco Chanel e Simone de Beauvoir no cinema – e a britânica Lucy Gordon como Jane, o grande amor do cantor. Gordon não viu a película pronta: cometeu suicídio quando o material estava em fase de pós-produção.

As interpretações não primorosas, entretanto, não estragam o filme, que retrata com charme o ambiente habitado por Serge, dos anos da ocupação alemã, na Segunda Guerra, até o fim de seus dias, no início dos anos 90. As cenas em que o pequeno Lucien espia uma modelo nua numa aula de desenho de observação, e a que ele vai a um café com a mesma moça, encontra uma velha cantora e canta cançonetas de cabaré, pouco adequadas à sua idade, são das mais divertidas.

Como cinebiografista, o novato Sfar surpreende, ainda que como diretor de atores ainda tenha um longo universo a aprender. O encanto das canções do irreverente Gainsbourg, que passou a vida defendendo a ideia de que era possível fazer música popular e de qualidade enquanto seu pai cobrava dedicação ao estudos clássicos, já valem o ingresso. Os fãs se encantarão, seguramente. Já quem conhece pouco sua vida e obra pode gostar de conhecer a verve e o gosto pela polêmica de um dos grandes nomes da música contemporânea.

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